BlogSlot - Visões de um Caipira Cosmopolita...

terça-feira, outubro 27, 2009

Cartões, Flerte & Sacrifícios

Hoje resolvi escrever sobre a odisséia de ontem.
Nada muito diferente do que qualquer ser humano faz quando está encantado por alguém, ou do que qualquer leonino é capaz de fazer. Mas que me fez pensar em escrever um pequeno post sobre o assunto.

(pequeno, sim - mas demorei uma hora e dez minutos pra escrever tudo)


Não é um segredo que conheci umas duas semanas atrás, ao sair na famosa Peruada, uma moça bonita, simpática, gente boa e com um delicioso sotaque mineiro. Nos conhecemos, rolou, pegamos metrô juntos, conversamos até sobre Arqueologia Submarina, e a deixei na porta do prédio dela, aqui em Perdizes.
Depois disto, a encontrei no Orkut, iniciamos um contato bacana, e fiquei na esperança de uma oportunidade de combinarmos algo mais pra frente.

E eis que do nada o perfil no Orkut da menina some.
E eu não tenho telefone, não pequei o email, NA-DA. Jegue.

Oh, fuck!
Que farei agora???


Neste momento, lembrei do que os contemporâneos dos meus avós faziam:
Deixar o e-mail de lado e usar os Correios mesmo. Comprar um cartão bonito, com uma mensagem bacana - mas não melosa e apaixonada, daquelas que matariam os diabéticos - e remeter uma cartinha pra moça.

Até aí, tudo bem.
Eu lembrava relativamente bem onde ela morava, e até arrisquei um pequeno mico ao ir até o prédio dela saber direitinho o número exato do edifício (graças a Deus que ela não me viu). Depois, nada que o Google Maps não pudesse me ajudar, pra descobrir o CEP.
E já pensei em bolar um textinho bonitinho pra colocar no cartãozinho, que eu me planejei pra comprar no outro dia.



Então tá.
Saí de casa na segunda de manhã, fui até o Correio - que, quando eu era mais jovem, vendia cartões de aniversário, amizade, casamento e até de amor emm seus estabelecimentos - pra ver se eu achava um grande e belo cartão pra mandar pra menina.

Claro que o Correio não vende mais cartões há muito tempo.
Mas o funcionário disse que, na mesma rua, tinha uma papelaria que vende estes cartões. Talvez ainda desse tempo de pegar um bem bonito e mandar na segunda mesmo, já que ainda era 9 da manhã e eu só entraria no trabalho às 11.


Cheguei na papelaria, comecei a olhar os cartões.
E qual não foi a minha surpresa ao perceber que NENHUM era do tipo que eu queria!!! Ou eram muito melosos, como se eu fosse pedir a menina em casamento, ou eram sobre Aniversário, Amizade, Nascimento, Religiosos...

A propósito, também tinham de Casamento.

Acabei vendo um médio, bonito, de um ursinho com uma padiola cheia de flores. Apesar de eu ter achado o cartão fisicamente "pequeno" para minha empreitada e dos vários coraçõezinhos que ele tinha me darem uma impressão de "excesso de fofura", pelo menos aquele era o Ú-NI-CO dentre os cartões à venda que não diziam "te amo" e suas variações.
Tudo bem que eu estou encantado pela menina, mas ela não precisaria do ceticismo de São Tomé pra ficar com um pé atrás se eu mandasse um "eu te amo" no cartão.


Mas obviamente que eu sou um perfeccionista.
Quero o melhor, pra mim e pra ela. A melhor mensagem, a melhor imagem, e naquele momento, o que mais me incomodava era que eu também queria um cartão grande, com pelo menos uns 20cm de comprimento fechado, pra ficar um negócio bem vistoso. A partir deste momento, a única coisa que me incomodava no cartão do "urso florido" era seu tamanho reduzido.

Obviamente que eu fui atrás de um cartão melhor...
E é óbvio que eu só me lasquei com o meu perfeccionismo.


Primeiro, chego na FNAC da Pedroso, aqui pertinho de casa.
"- Onde ficam os cartões?"
"- Terceiro andar, senhor, na Papelaria."

Subo três lances de escada rolante, xingando a FNAC por não colocar a escada que sobe pro andar superior do lado da saída da escada rolante que vem do andar inferior. Lembro que faziam coisa semelhante no Shopping Santa Úrsula, quando eu morava em Ribeirão Preto, e aquilo me deixava profundamente puto da vida.
Mas tá, né, a menina vale um pequeno atraso no meu trabalho. E algumas calorias a menos.

"- Moço, procurei aqui no terceiro andar inteiro, e não achei os cartões."
"- Pois é, a gente não trabalha com os cartões há algum tempo, o fornecedor não tem mandado pra nós."
" - Mas a moça lá embaixo falou que ficavam aqui..."
"- Sinto muito senhor, mas te informaram errado."
"- ..."

Ah, mas tudo bem, ali na frente tem a Kalunga. É papelaria também, devem ter cartões.

"- Senhor, procurei na loja inteira e não achei os cartões..."
"- Sinto muito, senhor, mas não trabalhamos com cartões."

Puxa, obrigado por avisar.
Agora eu sei onde vou procurar quando precisar mandar um cartão ELETRÔNICO pra alguém...


Fui trabalhar, e ainda cheguei dentro do horário. Menos mal, pois seria um pouco embaraçoso explicar o meu atraso naquele dia...
Depois, dei uma olhadinha na papelaria que tem em frente ao meu trabalho durante meu horário de almoço. Gastei mais ou menos metade do meu horário de almoço - aproximandamente oito minutos - procurando algum cartão que saciasse meu perfeccionismo.

Claro que nem a minha fome, muito menos o meu perfeccionismo, foram devidamente saciados.


Fiquei matutando até o meu expediente acabar. Agora, arrumar um cartão decente tinha se tornado uma questão de honra, e eu ia achar um cartão decente, faça chuva ou faça sol.

Pois é. E ontem choveu.
E é claro que eu fui do meu trabalho até o Shopping Eldorado a pé, tomando uma deliciosa chuva poluída primaveril-paulistana, que serviu para me encharcar totalmente. E passando no caminho por duas papelarias, que tinham cartão até pro Dia dos Professores (!!!!), mas não tinham um cartão grande.

Cheguei pingando no Eldorado, sentindo os últimos pingos da chuva que parava de cair.


Ah, mas agora eu estou Shopping.
Minha caipirice me dizia que lá de tudo eu podia achar, e com certeza acharia o maior, mais bonito e mais impressionante Cartão pra mandar pra menina. Era o que me impelia a enfrentar o ar condicionado do Eldorado totalmente ensopado, pisando e deixando um rastro molhado no chão de mármore espelhado.


Procurei no Carrefour, na Nobel e na Saraiva, por aproximadamente uma hora e meia.
Como podem imaginar, serviu apenas pra roupa ensopada secar no meu corpo. Pelo menos isto.


Me segurei pra não ir ao cinema, e nem pra comer alguma bobagem no Burger King ou no Mac. Pensei em ir reto pra casa, e talvez eu passar no Iguatemi pra tentar uma última olhada.

E, claro, a chuva ainda mais forte que voltava a cair naquele momento fez o favor de tornar minha paradinha no Eldorado ainda mais infrutífera. Desencanei de ir no Iguatemi, fui andando até em casa, e chegar lá em casa ainda mais ensopado do que no Eldorado foi algo que realmente me surpreendeu.



Depois disto tudo, o cartão do urso florido me parecia ENOOOOOOOOORME. Não me daria ao trabalho de enfrentar outro alagamento paulistano só porque eu queria algo maior para satisfazer meu próprio ego.
Além do mais, pensar em um texto inspirado é que seria o diferencial. O urso florido é que acompanharia o texto, e não o contrário - e eu enfrentei a metrópole congestionada e alagada procurando uma embalagem pro conteúdo, sendo que o conteúdo, talvez, nem precisasse de uma embalagem tão elaborada.


(embora que eu ainda ache que, além de produzir cartões para os perdidamente apaixonados, namorados, cônjuges, noivos, aniversariantes, pais, filhos, amigos, religiosos e para os professores, poderiam fazer cartões também para as pessoas que estão muito a fim de outras pessoas)



Hoje é terça-feira, e remeti o cartão pra casa dela de manhã.
Além de ter me cobrado R$ 0,15 a menos, por falta de troco pra um mico-leão (a nota de R$ 20, lembra? Nada a ver com os micos aqui postados), a atendente me disse que a correspondência demorará de um a dois dias úteis pra chegar na casa dela.



Agora, é ficar na torcida de uma boa impressão...


E na esperança de um retorno.